Entrevista com Felipe Botelho, músico da Macumba Antropófaga

Desde 2007, Felipe Botelho toca na Trupe Chá de Boldo, onde ele decidiu viver da música. A partir daí, apareceram outros trabalhos, como participar da criação da trilha da peça Romeu e Julieta, tocar com a cantora Beatriz Azevedo (com quem fez, entre outros trabalhos, o show Pagú 100 Oswald 120, junto com José Miguel Wisnik e Celso Sim) e acompanhar gente como Tatá Aeroplano, Pélico, Alzira E, Arruda, Peri Pane, Jorge Mautner e Juliano Gauche. Agora, no Oficina está prestes a ser devorado mais uma vez.

*Fale um pouco do seu histórico com o Teatro Oficina.*
Em 2009 eu entrei pela primeira vez no Teatro Oficina para fazer um show com a Trupe Chá de Boldo e foi um dia muito maluco, muito difícil, por vários motivos. No ano passado, fui convidado pela Beatriz Azevedo para trabalhar na oficina “Cabaret Antropófago”, assisti ao Banquete, nas Dionisíacas em Sampã, e agora estou trabalhando aqui. Durante o “Cabaret Antropófago”, eu conheci a atriz Sylvia Prado, para quem comecei a dar aulas de baixo. Um dia ela me mandou uma mensagem cancelando uma aula e falando que estavam precisando de um baixista para uma peça. Falou para eu aparecer lá. Eu cheguei meio perdido, começaram a me passar as músicas da peça e eu já estava dentro!

*O que esperava encontrar ao chegar para os ensaios?*
Não sei exatamente. Fui chamado em um dia e no outro já estava lá, e por isso não tive tempo de esperar muita coisa.

*Qual foi a sua maior surpresa?*
A minha maior surpresa foi que, logo ao chegar, a Camila Mota me passou a partitura de uma música para coral complicadíssima, com milhões de vozes! Eu achei incrível que eles estavam cantando aquela música, descobrindo as partituras.

*Quem faz parte da Banda da Macumba?*
Assim que me falaram para montar a banda eu chamei o Pedro Gongom, que toca bateria e canta na Trupe Chá de Boldo, que eu já conheço há muito tempo e é o meu maior parceiro na música. A gente até costuma falar que o nosso currículo é exatamente igual. Tanto ele quanto o Ângelo Ursini, que é multi-instrumentista, são pessoas com as quais eu já trabalhei anteriormente, no Cabaret Antropófago, por exemplo. O Felipe Siles (piano) foi o Ângelo quem indicou, e o sonoplasta Tom Monteiro, que também usa sintetizadores e ainda toca bateria, foi uma indicação do Rodrigo Andreolli, que atuou na Macumba Antropófaga em Parati. Fazem parte da banda também o Ito Alves (percussão), que já é do Oficina, e a Carina Iglesias, que entrou junto da primeira turma da Universidade Antropófaga.

Foto Pedro Lyra

*Qual é o maior desafio de fazer esse rito?*
Eu vejo dois grandes desafios. Para mim, é descobrir e incorporar essa maneira de trabalhar, o modo de fazer teatro; para todos nós, é entrar realmente na macumba!

*E como foi o processo criativo das composições da Macumba?*
Nos encontrávamos todos os dias, das cinco da tarde à meia-noite, para trabalhos físicos, de leitura e de criação das músicas. Uma parte das canções foi composta pelo próprio Zé Celso, enquanto outra parte foi composta coletivamente durante os ensaios. A primeira vez em que participei dessas composições coletivas eu tive a impressão de que não ia dar certo, já que me parecia impossível trinta pessoas conseguirem compor juntas… Mas deu certo! Os resultados foram surpreendentes! Este é um processo cansativo, mas muito prazeroso. Está sendo muito gostoso e muito diferente das outras coisas que eu fiz até agora. Fazer música para teatro é distinto de fazer música em um show. A música está ligada a outro contexto, é mais um elemento que tem de contracenar com a luz, com o texto, com os atores. Nesse momento, estamos enfocando nosso trabalho nessa tecnologia de integração, fazendo com que a música, a luz, o vídeo, os atores, juntos, revelem os climas, estados, acontecimentos, roteiros. E a Macumba precisa muito disso, dessa transformação, para acontecer.

*Você acabou entrando em cena na Macumba, para cantar sem roupa. Como está sendo essa experiência?*
Está sendo ótimo! Essa é uma das novas experiências que eu tenho a cada dia de trabalho na Macumba. E tirar a roupa até que é fácil, os outros atores tiram pra mim…! O difícil é cantar.

*Que pontos você chamaria atenção na trilha da Macumba?*
Ao longo da trilha existem algumas músicas muito sofisticadas, que criam momentos muito ricos, bonitos. É uma tecnologia que os atores estão descobrindo, a da partitura, a da música coral. E é também um tabu da dificuldade, das coisas impossíveis, que estamos comendo. Além disso, alguns temas destas músicas voltam em pequenas células e se transformam logo em seguida, servindo como elos e dando alguma unidade sonora para uma peça que é musicalmente muita diversa.

*Quais são os ritmos tocados na trilha?*
Todo o rito é cantado, do começo ao fim, com uma infinidade de ritmos de macumba, xamãs, sambas, entre outros, acompanhados por uma sonoridade eletrônica também. A idéia é que o público cante junto diversas músicas, o que vai fazer a macumba acontecer.

*O que as pessoas deveriam saber sobre o Oficina, mas ainda não sabem?*
Nós estamos fazendo um trabalho apaixonado! E fazendo a Macumba para superar os obstáculos e estrear neste dia 16 de agosto, na festa de 50 anos do Teatro Oficina. Mas com certeza devem existir coisas que nem eu sei ainda!