[:pb][vc_row][vc_column][vc_column_text]PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES INTEMPESTIVAS PARA A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO TEATRO DE ESTÁDIO
Programa e Gestão do Teatro de Estádio
A Oswald de Andrade
no cinquentenário de sua Ethernidade
do artigo
DO TEATRO, QUE É BOM
no livro
P O N T A D E L A N Ç A
organizado pelo próprio Oswald, que reagrupou artigos e conferências aparecidos em 1943 e 1944, em plena Segunda Guerra Mundial.
“Se amanhã se unificarem os meios de produção, o que parece possível, já não haverá dificuldades em reeducar o mundo, através da tela, e do rádio, do Teatro de Choque e do de Estádio. Por isso mesmo, meus reparos são contra o teatro de câmara que esses meninos cultivam, em vez de se entusiamarem pelo teatro sadio, popular, pelo teatro social, ou simplesmente modernista, que ao menos uma vantagem traz, a mudança de qualquer coisa. Grandioso demais, coletivo demais, próximo das origens verídicas do teatro – festa popular e grande catarse…”
“Todo aparelhamento que a era da máquina, como o populismo de Stravinski, as locomotivas de Poulenc, as metralhadoras de Shostakovitch na música, a arquitetura monumental de Fernand Léger e a encenação de Meyerhold, propõe Estádios de nossa época, onde há de se tornar realidade o teatro de amanhã, como foi o teatro na Grécia, o teatro para a vontade do povo e a emoção do povo.”
da peça de 1937
“A M O R T A”
O POETA
– Viverei na Ágora .Viverei no social! Libertado!
Um dia se abrirá na praça pública meu abcesso fechado!
Expor-me-ei perante as largas massas…
(O.A.)
O HOMEM E O CAVALO
De 1934
Esta peça do Poeta da Antropofagia é a materialização, devoração, atualização e superação total da dramaturgia do Teatro Construtivista de Maiakovski, Meyerhold e Einsenstein no início da Revolução Russa, misturada aos Grandes Rituais formadores da cultura de Mestiçagem Brazyleira.
Inspirou o Teatro Oficina Uzyna Uzona após o enorme sucesso de sua leitura encenada por 150 artistas no Teatro Sérgio Cardoso em 1985 a retomar a luta pelo Teatro de Estádio no nosso tempo.
Fará parte do repertório do Oficina de Teatro de Estádio, depois de sua inauguração com “Os Sertões” de Euclides da Cunha em cinco partes, parido na pista barracão do Oficina. O épico de Euclides da Cunha será encenado em alguns Festivais Internacionais de Teatro, sempre que possível, na Forma de Teatro de Estádio. Será gravado em DVD no Morro da Favela, no Cemitério das Catedrais afogadas de Canudos, na topografia natural do “formidável ANFITEATRO”* como dizia Euclides da Cunha, nas arquibancadas do círculo de montanhas derruídas que envolvem, abraçam e protegem o arraial; arquibancadas naturais onde os Oficiais do Exército contemplaram o espetáculo do massacre de Canudos.
•área escavada pela erosão, de formato mais ou menos circular, junto à encosta de uma elevação montanhosa.
O Programa, a concepção de Gestão do Teatro de Estádio, cercado por uma Oficina Uzyna de Florestas, nasce como o Teatro Oficina 4, e como todos os anteriores, inspirados numa dramaturgia específica:
– nas peças de Oswald de Andrade, especialmente “O Homem e o Cavalo”.
– “n’Os Sertões” de Euclides da Cunha.
– e, sobretudo, na contribuição milionária de todos os grandes momentos em que o teatro na trans-humanidade existiu como Arte Pública, Popular, como o Carnaval, o Futebol, o Pop Maracatú, o Bumbódromo, o Regódromo Eletrônico, o Rock RevoluSom etc, que tem sido praticado no passado futuro presente desta arte no Brasil e no Mundo e no Teatro Oficina.
Antes de tudo, a concepção de um Teatro de Estádio na cidade de São Paulo está ligada à reinvenção de uma Arte. Seu Programa Arquitetônico Urbanístico e sua Gestão devem ser o da realização de uma Obra de Arte, como é o atual Teatro Oficina de Lina Bardi e Edson Elito.
Deve atender à expressão e às necessidades artísticas das forças de produção e vontade de poder que o teatro em São Paulo conseguiu desenvolver, apesar da repressão pela ditadura militar que preparou o campo para a sua rejeição pela atual ditadura financeira clientelista. Pelo poder da máquina de desejo humano, o Teat ( r ) o Oficina vive, sobrevive, transvive há mais de 43 anos provando existir na cidade e no mundo o desejo coletivo de reinvenção de uma civilização universal, democrática, anárquica, mestiça brazyleira universal, quer dizer, com z e y, como a cultura helênica, que não era uma cultura nacional grega, mas de mestiçagem dos povos da Ásia, África, Oriente Médio e Europa.
A anarquia, a energia criadora, a loucura que existem na literatura, na música, no cinema, nas artes plásticas, nas artes orgyásticas populares, nas religiões, na maneira de sobreviver, criando mais vida, também existem no Teatro Brazyleiro. Têm sua Cena Original na devoração do Bispo Sardinha pelo índios Caetês, correspondendo à devoração da cultura simplista, dualista, do bem e do mal, puritana, e da máquina fatal da exclusão capitalista, hegemônica no planeta a partir do Hemisfério Norte. O Teatro de Estádio como os Sambódromos, os Terreiros, os campos de Futebol, são manifestações de uma cultura que está comendo a cultura hegemônica através de sua atração erótica, estética, na vida quotidiana e na política em sentido mais amplo, de retomada do Poder Humano, Transhumano diante das estruturas castradoras do Poder Maquínico.
O Teatro De Estádio, sem deixar de ser uma aposta num lastro de valor, inclusive Econômico e Mercantil do Teatro, é uma Aposta no Poder Transhumano de uma Arte fora dos padrões, das classificações, e da linguagem mercantilista e especulativa. Talvez seja mesmo uma revitalização da própria cultura do Mercado, aproximando-o mais do poder de invenção e criação do humano que brinca, que joga, na vida como ela é, sem messianismos religiosos, políticos, monetaristas ou fiscais.
Vamos ao Desejo do Programa e da Gestão.
PROGRAMA & GESTÃO
A Arquitetura Urbana do Teatro de Estádio; do Trans Shopping; da Universidade Popular; da Oficina Uzyna de Florestas; no entorno do Teatro Oficina e do Grupo Silvio Santos, deve abranger toda a área não construída ou desconstruída, derrubada, do quarteirão formado pelas ruas Abolição, Jaceguay, Santo Amaro, Japurá, Travessa do Bexiga, envolvendo o Minhocão em frente à Jaceguay e dois terrenos remanescentes das desapropriações feitas pela Prefeitura para a construção do Elevado naquele local.
Não há porque estabelecer uma esquizofrenia dividindo o projeto em dois campos: um de um Shopping e outro de um Teatro De Estádio. A origem dos Shoppings modernos paradoxalmente está nos mercados das Índias que tanto seduziam o século de nossa chamada “descoberta”. Está nos deliciosos mercados populares árabes-judaicos, nos Mercados Persas, nas Feiras Brasileiras, nas Grandes Lojas soviéticas do início da revolução comunista, que inspiraram o Ocidente e nos portais de Walter Benjamim, ruas-passagens por toda Paris. Portanto, retomando essas origens, chegamos ao Eterno Retorno.
Assim, num plano de Criação, os programas se copularão.
O que hoje se chama Shopping, poderá ser um
TRANS–SHOPPING
que retome a voluptuosidade das feiras populares como a de São Cristovão no Rio, dos Mercados Modelos misturadores das Megalópolis, contracenando com o Chic proustiano dos restaurantes dos Jókeis da Belle Epoque, das lojas do gosto da burguesia no luxo exclusivo, passarelas para desfiles de moda e de famosos, diante das multidões a assistí-los, antes de penetrarem nos seus ninhos de badalados gosseps. Um Baixo-Bixiga Democrático, sem Medo, com segurança garantida inclusive pelo Axé do lugar, na rua Santo Amaro, aberto 24h, ponto de encontro do Ócio, rua da fofoca, da informação corpo a corpo, nova rua do Ouvidor do século 21. Estacionamentos belos como o Metrô de Moscou, recebendo o ar da rua através de rampas amplas e boeiros. Um conceito novo de Logística, incluindo conjunto de lojas, livrarias multimídia, restaurantes de comida rápida, ou bem degustada, academias de malhação, de meditação, massagem, acupuntura, centros de embelezamento, cinemas da mais sofisticada tecnologia e com programação variada, de filmes de todo o mundo, espaços não convencionais de salas de convenções, em casas no estilo das do Bexiga ou em prédios de pouca altura vazados para a cidade.
A mesma abertura do espaço do Teatro de Estádio para a Natureza, para mistura, e tecnologia, é a de um Transhopping abrindo-se para uma estética do gosto de viver e estar, rompendo a fase atual de medo, segregação e agorafobia.
PROGRAMA DE ARQUITETURA ESPECÍFICO
1. ÁGORA PRAÇA CULTURAL – MEMÓRIA, PRODUÇÃO E CONCENTRAÇÃO
Na rua atrás do Minhocão, em frente ao Teatro Oficina, poderão ser construídas, nos terrenos renanescentes da desapropriacão do Minhocão, à esquerda e à direita da Rua Adoniram Barbosa, duas torres baixas, mas de grande Fachada e Impacto para o Trânsito do Minhocão, como se fossem Outdoors:
TORRE DA MEMÓRIA
Acima da Rua Adoniran Barbosa, caminhando para a Santo Amaro: instalação do Arquivo Eletrônico e de papel do Teatro Oficina e de outras Companhias paulistas, ou outros Teatros, como principalmente o do Teatro Imprensa, podendo, parceirizar-se ao arquivo de Teatro da Cidade, criado por Maria Thereza Vargas, hoje instalado no Centro Cultural São Paulo. Esse arquivo precisa ser equipado de acordo com as condições de criação, de trabalho e manutenção que a revolução digital possibilita para revolucionar a memória em valor passado, presente e futuro. Será, obviamente, aberto ao público presente e ao público on line pela Internet como fonte permamente de produção e criação de Memória, vitamina para ligar o cérebro arcaico ao frontal, na cabeça lobotomisada pela desinformação ou pela formação explicitamente desinformante. Sua fachada pode ser um grande Painel Eletrônico com informações de tudo que se passa em termos exclusivos do Teatro que está acontecendo no instante na cidade, e secundariamente, mas com muita importância, o que se passa no teatro do mundo. Será um lugar de produção desta área específica, geradora de produtos como CD’s, DVD’s, que sobretudo serão vendidos nas lojas do Trans Shopping. A Torre de Memória é também, portanto, um lugar criador de riqueza, valor econômico e de renda.
TORRE DA PRODUÇÃO
Abaixo da Rua Adoniran Barbosa, caminhando para a Humaitá: poderá ser um pequeno prédio, se possível, de cinco andares, onde no térreo se localizará um bar, ocupando 70% de sua largura, ligado à Bilheteria do Teatro Oficina e possivelmente do Estádio, onde se encontrarão todas as pingas do mundo, todos os Bacos-Populares, evidentemente aliados ao Café, ao Chá, ao Suco, Salgadinhos, Doces e Refrigerantes de diferentes regiões do mundo.
Inspiração inicial do Poeta Paulo Mendes da Rocha que lá viu um bar espelhado com bebidas como vodka, saquê, pingas, eau de vie, etc, um balcão altar a Dionísios.
Uma porta de acesso aos andares onde se localizarão:
Para uso dos que trabalham, principalmente, no Teatro Oficina que não tem dependências para as seguintes necessidades, podendo se eventualmente usado por outros elencos:
– Casa de Produção
– Salas de Ensaio
– um pequeno hotelzinho de tres quartos, para pessoas que possam estar fazendo um trabalho esporádico de curta duração no Oficina, ou funcionários que devido aos horários de transporte de São Paulo às vezes tem que pernoitar na região. No seu telhado, um deck para meditação e exercícios psicofísicos.
PISO COMUM
Todo o Complexo Urbanístico e Arquitetônico pode ter um chão marcante como os famosos de Copacabana ou do Sesc Pompéia que unifique as construções mas variando em diferentes linguagens plásticas, como numa Sinfonia, em que temas se repetem, como bordões. Poderão ser criadas faixas no chão que guiem o público, iniciando-se talvez a partir das estações de Metrô Praça da Sé, Liberdade e Anhangabaú, como em Londres, para indicação do lugar.
O BAIXO DO MINHOCÃO
O Sacolão que ocupa hoje os baixos do Minhocão, poderá trasnferir-se para um dos baixos que estão após o cruzamento da Jaceguay com a Abolição, e serem incoporados ao conjunto na forma de um Anfiteatro de cimento, cavado, rebaixado, onde se localizará
– o BARRACÃO para a feitura dos CARROS ALEGÓRICOS,
– o CAMARIM DE BICHOS
Às vezes será um local para encenações especiais, encontros na Ágora e concentração dos atores quando as montagens envolverem todo espaço do entorno do Quarteirão, das Ruas. Na parte não rebaixada
– um bar Botequim, com mesas e cadeiras, ao lado dos banheiros para Homens, Mulheres e Anjos.
2. O TEATRO OFICINA
Manterá sua configuração atual, entretanto, abrindo-se na sua
– LATERAL OESTE, dando para o Estádio propriamente dito, situado entre a Rua Jaceguay, Abolição e Japurá. As Janelas de Vidro poderão se tornar portas semelhantes as do Teatro concebido por Niemeyer para o Ibirapuera, e os muros abaixados. Tudo sem ferir a Cezalpina, a árvore que tem as raízes no jardim do Oficina e a fronde no Terreno de Silvio Santos: a Vanguarda deste processso.Assim, em alguns espetáculos, o Teatro Oficina seria a “skene” do teatro Grego, formando um espaço único com todo o Estádio.
– A PAREDE NORTE cai, dando saída para a Rua Japurá, desbecando finalmente o Oficina. Lina Bo Bardi desde o início concebeu esse teatro como uma Rua de Passagem, Teatro pé na Estrada, “dando para as Catacumbas: o Coliseu de Silvio Santos”. O acervo de matéria criada nesse espaço não pode estar contido num beco sem saída. Simbolicamente, o Terreiro da Cultura Modernista, Antropófaga de Carnaval, não pode ser uma via sem saída na cultura do Brasil. O Oficina é uma encruzilhada. Pode ter entradas e saídas – bocas e cus – pois cultiva uma cultura ligada ao corpo sem orgãos do mundo e não pode estar amurado. É um fluxo urbanístico que descarregando para a Japurá, desemboca no AnhangaBaú da Felicidade. Da mesma maneira as paredes altas, da cabine de luz, do palco superior, dos Camarins, na mesma ala Norte, podem voltar à sua concepção inicial, como paredes de vidro, abertas para a luz e paisagem do entorno. Assim os atores poderão se preparar vendo, sendo vistos e se comunicando com a cidade. O prédio vai assim despir-se mais ainda para seu exterior, ganhando leveza, flutuando nele. Estas paredes foram fechadas por processo movido pelo Grupo Silvio Santos no ano da queda do Muro de Berlim e agora com a paz selada e criativa entre Oficina e este grupo, este “muro” pode também cair.
– VEDAÇÃO – O Teatro Oficina será vedado acusticamente por uma engenharia altamente especializada e, visualmente, por uma cortina, ou persiana para os casos de coincidirem apresentacões de espetáculos ou ensaios diferentes no Teatro Oficina e no de Estádio.
3. O TEATRO DE ESTÁDIO
Configurou-se a idéia de fazê-lo voltado para o lado Oeste a partir da encenação de “Os Sertões”, olhando do Oficina para o pôr do Sol, consagrando o Manifesto Arquitetônico Urbanístico de Lina Bo Bardi: uma Rua que desemboca na Apoteose de um Coliseum Esburacado, com uma arquibancada de curvas de nível, esculpidas em parte na profundidade do sub-solo, talvez tendendo para a inclinação natural do terreno, que é um morro que desce da Avenida Paulista para o vale do Anhangabaú.
Esta arquibancada, este anfiteatro, é inspirado na topografia de Canudos, maravilhosamente descrita pelo poeta engenheiro Dr. Euclides da Cunha, e viva no interior da Bahia, apesar da destruição causada pelo açude de Cocorobó em outros Estadios de Anfiteatros Naturais de Pedras. Não querendo construir um Muro muito alto de Arena, ou de Plaza de Touros para uma arquibancada alteada, surgiu nesse processo de 25 anos a visão de um teatro parcialmente de muros de troneiras de Beirute, como Lina viu nos seus primeiros desenhos do teatro Oficina, mas prosseguidos como os gregos, aprofundando-se na terra, esculpidos nela. “Catacumbas”, “Coliseus”, como dizia Lina e também Euclides, da paisagem de Canudos. Um Teatro encravado na Terra, rebaixado, com degraus rebolantes, em “volutas impossíveis de curvas incorretas” – como as da Igreja Nova de Canudos projetada por Antonio Conselheiro, o maior arquiteto do Sertão, abraçando o revolucionário Teatro Oficina, Rua, passagem, rompendo para a Ágora, libertado da cidade das grades para o Espaço de São Paulo Cidade Aberta.
Sem os muros das verticalizações, com entradas ao nível da calçada, como uma cata, uma Vala comum, podendo estar Aberta para os céus do Trópico de Capricórnio, nos belos dias, de acordo com os desejos estéticos das criações ou fechado, ou semi fechado, por uma Óca Retrátil, com possibilidade de ter cobertura transparente de materiais que deixem a luz, as estrelas, os satélites, os aviões, as chuvas serem percebidas e vividas; coberta por Telas Arredondadas de Projeção a maneira de um Planetário.
Um Estádio de nossa Época, com a evolução dos Esportes Apolíneos, pede a sofisticação de sua construção, e a possibilidade da virtualização estética radical na composicão dos espetáculos e na programação funcional do prédio. Um prédio inteligente. Pede o que Gropius começou a imaginar no seu Teatro Total – impedido pelo nazismo de vir a luz – que integra o cinema ao Teatro, trazendo a presença do planeta, do Globo, em imagens. O teto de seu Teatro talvez Gropius não imaginassse nem retrátil mas imaginou circulante como o Globo, o que é uma idéia esplêndida e determinou nos anos 30 a retomada moderna da arquitetura do Globe Theatre de Shakespeare, construído esotericamente como um Microcosmo. Piscator, que criou o projeto com Gropius, via o mundo na dimensão do histórico, o que está nos Atlas, com a divisão dos países, com a geofisica. Não vislumbrava ainda o Teatro religado ao espaço sideral. No terceiro milênio essa visão retoma a de Shakespeare. Além do espaço histórico-político do Globo, há o Cósmico, o Ecológico, o das Camadas Infindas da Estratosfera. Estas muito inspiram, tanto ao ator como ao público quando no aqui agora o ator religa-se a materialidade do brilho de uma estrela emitindo sinais que aparecem naquele instante, numa lua cheia ou em eclipse, num sol de meio dia ou se pondo, ou nascendo, como já acontece no teatro Oficina. A Projeção em Telas esféricas, nesta Cúpula-Óca interior, é um dado que se acrescenta a busca comum do Teatro contemporâneo de estar plugado, como foi com a luz elétrica no século passado. O universo Cyber existe no espetáculo teatral, assim como sua possibilidade de mesclar o virtual ao atual, ao corpo presente do público e do ator, do dançarino, do palhaço, do músico, dos DJ’s, etc.
A maior inspiração do Teatro de Estádio é o Circo, inclusive com sua vida aérea de trapézios, cordas, arames, funâmbulos…
Os quatro elementos da natureza precisam estar presentes e dominantes: possibilidade do uso amplo do Fogo, da Água, da Terra e do Ar no espaço do sub-solo, do solo e das alturas. Céu-Terra-Inferno. Fossos são importantíssimos.
A ampla circulação por todo o espaço garante que não seja apenas a área da arena central considerada área forte, mas todo o espaço, podendo acontecer o Teatro em todos os lugares, numa promiscuidade fértil com o público. Muitas vezes as arquibancadas serão focos centrais da ação teatral, ou o espaço áereo, ou as galerias da encruzilhada que devem abrir-se para todos os cantos das ruas vizinhas em amplas rampas de onde jorre muitas vezes o foco da luz do dia, nos espetáculos diurnos, e por onde a brisa da rua possa invadir e refrescar o local à noite.
Trata-se de um Estádio tropical, portanto, muito aberto para o exterior, mesmo em suas profundidades. A Ventilação das suas entradas, de suas portas janelas, ou buracos do Coliseu que dão para a rua, não deixarão que se transforme numa caixa preta, hermeticamente fechada. Esta é, talvez, a maior contribuição de Lina para a arquitetura teatral no mundo. Seus primeiros desenhos foram buracos que ela chamava de Beirute, para a Luz natural e dos postes vazarem para dentro em LUZES DE GLÓRIA, das Catedrais, rompendo totalmente com o país escuro, sem luz própria, o país do indivíduo de “A Morta” de Oswald:
“A OUTRA
– Praticamente este edifício só tem forros fechados!
Habitamos uma cidade sem luz direta: o Teatro.”
A Morta, O.A.
Esta peça sobre o confinamento do Poeta no país do Indivíduo, da Gramática e da Amnésia, sufocado na Caixa Preta, na Torre de Marfim, desejando romper, chegar a Ágora, é outro documento dramatúrgico em que se funda este Novo Teatro Varado de Cidade e Luz, que começou já com o Oficina. Graças a este espaço conseguimos dez anos de encenações de grande sucesso, onde se reviu todo o teatro universal, através da interferência da Cidade, de sua Natureza Primeira e da Segunda: a virtual.
O Teatro deve estar equipado, portanto, como uma “Lanterna Mágica” contemporânea, um Svoboda sem a Caixa Preta. A Grécia tinha os chamados Bucóliuns que eram anfiteatros enormes onde se fazia uma espécie de reality show com os acontecimentos íntimos, públicos e privados, todos misturados, dando-se para a cidade. A revolução digital tende a desenvolver cada vez mais a tecnologia de captação que amplia as capacidades humanas. Telões de grande intensidade e qualidade, gravação do espetáculo no escuro, com olhos do que não enxergamos, projeções visíveis a luz de sol intenso, microfones de super sensibilidade para ações sonorizadas que contracenem com as ambiências energéticas e climáticas criadas pela relação público-ator, vividas em motanhas russas sonoras – em grande volume, sussurando, captando silêncios das mais diversas atmosferas, imprevisíveis no contacto da tecnologia com a sempre imprevisível energia viva criada pela atuação direta e pela presença explícita volúvel do universo. Assim como a Natureza, o Teatro deve ser Bárbaro, mas também Tecnizado, com a segunda Natureza: a Cyber.
Deve estar preparado para as gravações ao vivo de espetáculos, gravações ao vivo de áudio que originarão futuros CD’s, sua transmissão pela TV, tomara que a SBT, pela Internet e outras Mídias que serão cúmplices da comunicação direta radicalizada na presença fisica, na mesma respiração com públicos participantes – atuadores.
4. A UNIVERSIDADE POPULAR DE ARTES E CULTURASBRAZYLEIRAS DE MESTIÇAGEM ORGIÁSTICA.
Um Teatro que se transforma a medida que se descobre necessita de constante estudo e formação de outra mentalidade teatral, libertada da condição de refém do que se classifica como gosto da burguesia, ou mesmo da pequena burguesia, ou do povo, enfim, de qualquer classificação de classes e gênero teatral. O Teatro deve interessar a todos, além de suas máscaras sociais, étnicas, de idade, religiosas… Índios, desempregados, empregados, crianças, velhos, adultos, cultos, incultos, eruditos, pops, bregas, etc…
O Teatro é justamente o ponto de encontro do corpo a corpo da humanidade, paradoxalmente despida de seus figurinos na Sociedade de Espetáculos, plugada pelo Eros dos “em mims” na multidão, pelo tesão de estar juntos, além das barreiras dos teatrões das diferenças sociais. Esse estar junto é o ambicionar de um desejo coletivo que tem suas origens remotas na Orgya. Nos Mistérios de Elêusis dos gregos.
No trabalho com as crianças do Bixiga, o “BIXIGÃO”, que tem este nome por conta de uma primeira proposta por escrito de co-produção que o Oficina fez ao Grupo Silvio Santos, grande parte dos 60 atuadores do teatro passou a ensinar e aprender com as crianças, expandindo consciências do inconsciente, por obrigar–se a uma reflexão teórico-didática do que está sendo inventado, feito novo.
A encenação de “Os Sertões” levou a um estudo da obra de pensamento complexo de Euclides. Engenheiro poeta, misturando ciência com poesia, deixou uma obra que é em si uma Universidade. Quem lê varias vezes os Sertões, perfura o livro ponta a ponta, vai se formando num pensamento contraditório, paradoxal e misturado de línguas. Do ibérico antigo, ao brazileyro, passando pela linguagem sertaneja, indígena, africana, pela língua da geologia, das artes marciais, da antropologia, da sociologia, da história, da engenharia, da botânica, da estratégia militar tanto ocidental clássica quanto de guerrilha, oriental antropofagiada na sertaneja.
O aparato colonial, positivista, iluminista da cultura da Europa e da América do Norte possuíam antes o cérebro colonizado do autor. De repente, abalado pela crise originada do contato com a desconhecida paisagem geográfica, humana, com a violência da guerra, a degola, promovida pelo Exército Brasileiro, essa cabeça funde, começa a passar pelo processo dolorido do desencanto, como Joseph Conrad, da cultura ocidental. Ao mesmo tempo começa a perceber descolonisadamente, e revê o mundo com olhos, alma, eros, em toda a sua não simplicidade. Começa uma outra cabeça. Lê um outro Brasil, um país estrangeiro para si mesmo.
Euclides seguia com a Quarta Expedição, como repórter do Estado de São Paulo, e como que chega em Marte. Pisa no interior da Bahia subvertido pelos Conselheiristas. Cabeça mais sofisticada, mais global, mais culta que o Brasil produziu, de repente explode ao contato com o país de dentro e sua poderosa cultura que havia reexistido em três expedições do Exército Brasileiro. Esse livro, o mais editado e traduzido do Brasil, e talvez o menos lido, de qualquer maneira foi a primeira grande interpretação do Brasil, ou dos dois Brazis. Inspirou o aparecimento do Grandes Sertões Veredas, das interpretações luminosas de Sergio Buarque de Holanda, Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, Darcy Ribeiro, Glauber Rocha. Era sonho de Lina Bardi montarmos juntos essa obra.
Quem atravessa o livro coletivamente como estamos fazendo desde o ano 2.000, adquire uma Universidade, principalmente no contexto do Brasil atual, em que o povo votou por grandes transformações e o Oficina abriu-se inteiramente para a inclusão social, não por dever ético mas por desejo e necessidade estética. O povo que sobrevive nas condições que o brazileyro sobrevive tem um grande saber, e quer se apossar dos instrumentos todos da cultura universal sem precisar submeter-se a seus cânones.
Um Teatro novo precisa ser defendido por idéias novas. Um teatro que não ambiciona ser um espelho da sociedade mas, sim, um agente criador com essa sociedade de uma outra civilização, precisa estudar e ao mesmo tempo ser uma fonte de estudos múltiplos.
As escolas de Teatro antigas tinham a influência do teatro de “estilos” e acreditavam somente no teatro do Hemisfério Norte. Ensinava-se que o teatro brasileiro começou com Anchieta catequizando os índios brazileyros. É o contrário. Os índios comeram os padres e criaram outra cultura. Os índios, os africanos, já tinham um teatro ligado à vida, à feitiçaria, à caça, à pesca, à colheita, e Anchieta trouxe o teatro fazedor de cabeça, “educador”, colonizador, que era muito forte na Europa, mas aqui, tinha que ser comido ou morríamos como civilização.
E as escolas antigas reproduziam, macaqueavam, impostavam, despopularizavam o corpo do ator, que ficava cerebral, duro, careta. No século XX, o teatro russo começou a mexer no teatro “representado”, “declamado”, ligou-se ao animismo da cultura Eslava, descobriu-se o insconsciente do ator, a derrubada da quarta parede pela energia que devia pegar toda sala como fazia Cacilda Becker e não ficar somente no palco.
Pois as escolas até agora ficam no palco. Pior. Passaram para a telinha de TV, mil cursos de teatro que são pura picaretagem e preparam mal o ator até para serem o rebanho das novelas.
Há necessidade de um outro princípio para as escolas de Teatro. Se o teatro é a poética, o estudo, a vivência da arte do trabalho do poder humano, além do humano, diante da estrutura coagulada, morta, e de seus personagens covers, mascarados, precisa sair do cursinho de Teatro e encarar o trabalho de produzir uma civilização que dê passagem a toda a energia humana criada.
Tudo que é desperdiçado pela exclusão dos sistemas inventados a partir da negação do poder da vida presente passa a ser o objeto principal do estudo do teatro.
A Formação do teatro tem de ser universitária no sentido medieval do termo, não no mercantilista e carreirista atual. Universidade como núcleo vivo e livre que une diversos saberes, para que possa o Teatro ser em si, uma Universidade de Vida.
É preciso apreender todas as artes populares, seus segredos, suas religiões, seus gestos, seus sambas, seus maracatus, suas gingas, suas mágicas, suas lutas, tudo que dê passagem no corpo a energias que levem a um teatro cada vez mais dança, mais ritmo, mais música, mais interferência na energia ambiente, capaz de transmutar multidões. Aprender a trabalhar toda tecnologia táctil, pois teatro é táctil, nós vivemos uma sociedade acionada pelo tato, pelos dátilos, a cultura virtual é digital, de dedo, de energia que transmite o fogo que sai das pontas dos dedos, vem do corpo e é preciso apreender o que nenhuma escola ensina, a não ser a da vida vivida na arte, no próprio aprendizado da vida, na delicadeza de seu descabaçamento, no trabalho comum de Montagem, de vivência de uma experiência humana, de um grande trabalho coletivo visando a expresssão de uma metáfora cheia de vida que nos transporte de um estágio vital a outro, de uma sociedade a outra, de uma civilizacão à outra. Isso se apreende juntando todas as idades, todas as tecnologias, todas as religiões, todas as feitiçarias e nenhuma IGREJA.
É preciso o lugar onde o pensamento universitário e científico possa livremente cruzar-se com o pensamento corporal, com a razão emotiva, cardíaca, erótica, intuitiva e de suas formas. A educação que a perversão da arte traz é muito mais rápida, viaja na velocidade do som e do amor.
A Primeira Sinagoga do Bixiga não é o melhor lugar que já existe nesse lugar para uma universidade ? E um Estádio de Teatro não é seu melhor campus ?
A universidade já começaria sabendo e ensinando que é besteira destruir uma sinagoga, carregada da energia do axé que gerações e gerações lá deixaram. São terreiros, de prática do Dibuk, o trabalho de incorporação tão ligado ao teatro como se vê na obra prima teatral do mesmo nome. Na situação de guerra, de destruição de monumentos, de lugares onde se deu amor coletivo, que são descartados pela reconstrução de uma arquitetura totalmente superada, fria, sem vivência, sem axé, tumular, porque não aproveitar um espaço contaminado para trasmutá-lo num lugar ecumênico? A primeira peça a ser encenada neste curso seria “O Dibuk”. Seria uma escola de percurssão, de música, de artes corporais, meditação, tudo voltado a um teatro que consiga ser o avesso da Sociedade de Espetáculos. Seu Duplo e seu Avesso. Todo ato humano é simbólico. A Aquitetura de uma cidade como São Paulo, também é simbólica. Não pode ser mais a terra arrasada. Não se trata de preservar, mas transmutar a energia. A cultura, as religiões, os bordéis, os teatros, são uzinas de energias, e por isso, devem ser transmutados. O Teatro Oficina foi parte de tendas dos tupys, foi parte de senzalas, de quilombos, de massacres, de pilhagem, de grilagem, foi uma vila romana, uma fábrica de cestas de natal, um centro espírita com um teatro Kardecista mesa branca; hoje é um terreiro eletrônico, um Teatro da Ópera de Carnaval elektrocandonbláica.
Há lugares que absorvem o espírito do tempo. Aquela Sinagoga é assim, com seus vitrais maravilhosos. Recife tem uma Sinagoga muito menor, minúscula, mas que foi de onde partiram os judeus que fundaram Nova York. Está totalmente preservada. Lá vi vida, muita!
A energia humana no tempo e na historia é reciclagem. Estamos sempre entre vivos, que herdaram vida de outros vivos que depois morreram, mas deixaram vida no que tocaram, no que digitaram. Essa escola pode ter um espaço para se formar atores de teatro de Estádio, e pessoas para atuar na vida, não importa onde. Ela deve ser o organismo de evolução dessa linha de cultura e teatro que não é hegemônica, ao contrário, e entretanto é a que pode fazer o Teatro devolver-se à sua origem popular, à festa, à rave incorporada. Eu não tenho idéia do programa dela, mas o ideal é que seja uma ocupação da Sinagoga tal como ela será deixada antes de uma não desejada demolição. Que sua própria arquitetura seja descoberta na prática, no momento em que lá começarem a se desenvolver boas condições de aprendizado técnico, digital e sensorial. Espaços que possam se abrir para a natureza, e deixar que esse movimento encontre seu programa. Nem tudo pode ser previsto. Sei que que pode ser a continuação do trabalho do Bexigão em work in progress. Pode ser imediata a sua ocupação que passa a inventar seus próprios cursos, contracenando com o MEC para encontrar sua forma universal não necessariamente republicana, nem monarquista, nem comunista… a se inventar.
5. A OFICINA UZYNA UZONA DE FLORESTAS
Quando montávamos “Na Selva das Cidades” Caetano Veloso inspirou-se nos poetas paulistas para fazer esses versos de Sampa em que canta as Oficinas de Florestas,Teatro Oficina; seus Campos e Espaços, os irmãos Campos; seus Deuses da Chuva, Jorge Mautner; Novo Quilombo de Zumbi …
Foi profético. Quando o Minhocão estuprava o Bairro do Bixiga e Lina recolhia o lixo das obras para fazer a arquitetura cênica da peça do jovem Brecht começou a surgir uma consciência muito forte da importância da terra, de deixar respirar a terra. A geração de imigrantes dos nossos avós puseram cimento em tudo. A terra era feia, era suja. Lina dizia que em baixo do cimento estava o sertão. O mundo começou a perceber a ecologia. Uma das peças míticas de teatro mundial é “O Jardim das Cerejeiras” de Tchecov de quem o mundo comemora este ano o centenário. O autor era uma médico e um grande ecologista e mostra no fim de sua peça um jardim de cerejeiras de uma aristocrata falida sendo destruído para dar lugar a um loteamento para especulação imobiliária. Nesta época parecia fatal que os jardins fossem destruídos. As interpretações dessa peça negavam violentamente o autor. Eram de uma fatalidade axiomática. O progresso exigia. O mundo em um século foi destruído mais que em toda sua história sem conto. Todos nós estamos cientes de que, principalmente, em cidades como São Paulo, temos de construir jardins, florestas, verdes. A cidade é de vegetacão exuberante tropical, não tem porque estar entulhada nessa cimentação. A idéia de um Estádio, de um Teatro Rua, de uma Univeridade contemporânea, contracena diretamente com a vida das plantas, das flores, dos frutos e dos animais. A humanidade retorna desde 68 ao paganismo, ao animismo e sente que a vida não está somente no recorte individual de seu corpo. Quanto mais temos necessidade de tecnologia que, com a revolucão cibernética faz diminuir o espaço das máquinas e traz o homem de volta para o trabalho misturado com sua vida em sua casa, tanto mais temos necessidade do verde, do ar não poluído. Eu, felizmente, estou escrevendo no Paraíso, onde posso ver o Planetário coroado de Verde. Um vasinho diante de São Paulo mas, pra mim, meu mar. O espírito de Burle Marx precisa ser reincorporado. São Paulo precisa deste trabalho de reincorporacão desta entidade. É a hora realista da Necessidade do Verde. De descobrir a vida onde ela está. Está amanhecendo e estou ouvindo os pássaros falarem com o mundo. Eu, por um acaso, tenho uma paisagem do meu modesto apartamento, que muda tudo. O Bixiga precisa de uma Floresta que seja uma Oficina de Florestas, que se alastre neste bairro como Maria Sem Vergonha, e em muitos outros lugares. É a única reparação possível, depois do Estupro do Minhocão. Vamos ressigná-lo, dar-lhe um outro uso, e esverdear, pintar com Quaresmeiras, Ipês, Coqueiros, Comigo Ninguém Pode, Cabeças de Frade, Espadas de São Jorge, Parreiras, Mangueiras, Chorões, Joazeiros, Palmatórias do Inferno, Palmeiras Imperiais, como pretendia Lina, arrancadas para fazer a Sala São Paulo, uma filial de Viena, quando poderia ser um Espaço acústico que não destruísse a sonoridade, o canto daquelas árvores centenárias.
6. TRANS SHOPPING
Os Estacionamentos, os bares, os restaurantes das mais diferentes cozinhas, da natural à carnívora selvagem, às comidas baratas das pensões aqui desta região onde comi muito bem na minha juventude, as delícias da cozinha italiana, africana, baiana, pernambucana, francesa, russa, vietmanita, chinesa, as livrarias multimídias, as casas de massagem, de meditação, de tratamentos especiais para o corpo, as academias de malhação aliadas às academias de desmalhação de outras técnicas como o Power Ioga, boutiques das mais diferentes tribos, adegas com os melhores vinhos, enfim, toda a riqueza contemporânea do mercado cultural internacional e nacional, para todas as classes, todos os gostos. Criar um entorno de misturas. Restaurantes no coração de outros Sacolões que possam se localizar em outras partes do Minhocão. A Vocação do Bixiga é a mistura. São Paulo está guetado, guetos ricos ou pobres. Todos desejam a perversão mesmo que não a formulem ou confessem, no Espaço da Mistura. O entorno comercial do teatro é contemporâneo deste desejo ás vezes secreto, desconhecido pelas próprias vítimas da segregação: burgueses ou desclassificados.
Um Baixo, um Point, que consiga juntar a vinda de bairros distantes para contracenar com o Bairro Mãe Bixiga.
A Idéia de fazerem casas como as antigas do Bixiga é boa, como também poder-se-á inventar outras possibilidades ligadas ao que se quer no Estádio. À uma Arte Popular, Contemporânea, Ousada, corresponde um Divertimento Fora da Rotina, um Trans Shopping, ousado, um lugar em que você se sinta vivendo o mundo presente, respirando todas suas diferenças.
Os Estacionamentos podem trazer alguma coisa de menos sinistra. Podem ter uma linda iluminação, podem ser vasados por sistemas de ventilações subterrâneas.
O Próprio Teatro Imprensa ganharia com essa integração e naturalmente, a competência e o talento demonstrado por Cyntia Abravanel, poderia criar espetáculos infantis maravilhosos no Estádio com a qualidade que fez seu Monteiro Lobato. As crianças é obvio que vão adorar o teatro deEstádio. As adjacências deviam ter creches, lugares que cuidassem dos que viriam a esse Espaço. Sorveterias, jogos eletrônicos, tudo que pode divertir uma criança hoje.
GESTÃO
LINHAS GERAIS
O GRUPO SILVIO SANTOS TEM QUASE MEIO SÉCULO DE EXPERIÊNCIA NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO TELEVISIVA, NA ÁREA EMPRESARIAL E COMEÇA, COM O TEATRO IMPRENSA, A PARTICIPAR ATIVAMENTE DO TEATRO PAULISTA.
O MAIOR PATRIMÔNIO DE TROCA DO OFICINA COM O GRUPO SILVIOSANTOS, E COM SILVIO SANTOS, É A EXPERIÊNCIA TEATAL CULTURALREVOLUCIONÁRIA, PRÁTICA, DE QUASE MEIO SÉCULO DE CONTRACENAÇÃO DIRETA COM A CIDADE DO TEATRO OFICINA, QUETEM NA IDÉIA ORIGINAL O TEATRO DE ESTÁDIO COMO SUA MAIOR CONTRIBUIÇÃO AO FUTURO PRESTE DO TEATRO COMO ARTE, CULTURA E RENOVAÇÃO DA VIDA BRAZILEYRA E UNIVERSAL.
ESSAS DUAS EXPERIÊNCIAS DIFERENTES REUNIDAS PODERÃO TRAZER O TEATRO DE SÃO PAULO PARA A VANGUARDA MUNDIAL.
1. Fundação Silvio Santos
A Gestão seria de uma Fundação, possivelmente Silvio Santos, que será a base econômica e institucional para a independência do funcionamento e da programação do Teatro de Estádio, da Universidade Popular de Artes de Culturas Brazyleiras Populares de Mestiçagem, da Oficina Uzyna de Florestas, da Ágora Praça Cultural incorporando o Minhocão com suas duas Torres e o Barracão nos seus Baixos.
O Trans-Shopping na Rua Santo Amaro, seria naturalmente gerido pelo Grupo Silvio Santos como a Associação Uzina Uzona por enquanto seria a responsável pelo Teatro Oficina. Ou não, pois seria maravilhoso que se encontrasse uma unidade orgânica nas diferenças das idéias que foram sonhadas pelas partes que se encontram nessa realização extraordinária para o Brasil.
As necessidades mercantis e estratégicas, os parceiros financeiros, públicos e privados, nacionais e internacionais, do Grupo Silvio Santos e do Teatro Oficina, criam parcerias para a construção da integração criadora do Trans Shopping, com o Teatro de Estádio, Universidade Popular e a Área Verde, sua manutenção e expansão.
2. Objetivos
A Fundação será uma contribuição específica desses poderes econômicos e sociais mencionados acima para a vida cultural da cidade de São Paulo com a finalidade de criação do Teatro de Estádio, promovendo desenvolvimento contemporâneo de uma Arte Urbana de Convívio Popular. Como popular compreende-se todo o povo, que é o público que o Teatro busca: o Universal, além das diferenças de classes e outras.
Um novo Festival Internacional Anual de Teatro de Estádio em São Paulo que poderá ter o Teatro de Estádio, o Teatro Oficina e o Teatro Imprenssa como sede será outro objetivo da fundação que poderá trazer recursos de todo o mundo. Seria como as Dionisíacas gregas, Olimpíadas de Teatro Mundial.
3. Órgãos
A Fundação terá
– um Conselho,
– uma Presidência e
– dois Corpos Executivos:
de Programação e de Administração.
O Conselho será composto por um grupo de notáveis. Intelectuais, juristas, políticos, pessoas da vida cultural paulistana, nacional, e internacional, líderes populares do Bixiga, profissionais da noite do Bairro. Sua função é nortear a Presidência a partir dos acordos principais de linha do Empreendimento. Seus membros, à parte o próprio Silvio Santos e José Celso Martinez Corrêa , ainda serão definidos e devem reunir representantes da Cooperativa Paulista de Teatro, da Prefeitura, da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, da Secretaria de Cultura do Estado, da Funarte, do Ministério da Cultura, e sobretudo representantes do Movimento Vivo Teatral da Cidade.
A Direção Geral artística no que toca ao poder artístico teatral é de José Celso Martinez Corrêa. A gestão será feita pela Associação Teatro Oficina Uzina Uzona, coligada a outras instituições formando um corpo organizado por produtores teatrais experimentados.
A administração e a gerência garantem a execução do programa, a organização da fundação e de seus funcionários, a utilização apropriada do orçamento da fundação em concordância com as leis tributárias e os estatutos básicos da nova Instituição .
4. Financiamento
O Grupo Silvio Santos garante uma soma mínima anual ainda a definir para os primeiros 5 anos da fundação. Outros recursos poderão vir de percentagem de bilheteria de todos os eventos, promoções e vendas.
A fundação será aberta para doações de terceiros e procurará parceiros para a realização dos eventos e festivais específicos que extrapolem as possibilidades financeiras da própria fundação.
5. Constituição
Penso que este Teatro de Estádio deveria ser constituído com a confiança no desenvolvimento, crescimento, expansão, principalmente das Artes Cênicas, e sobretudo da Arte do Teatro.
O Teatro por nós imaginado é visceralmente ligado à Dança, ao Circo, à Musica, aos Cantores, Bailarinos, Acrobatas, Palhaços, Artistas plásticos, de Body Art, DJ’s, músicos, Concretistas, Eletrônicos, WebsArtists, enfim, tudo que se apresenta como Arte diante de um público ao vivo.
Haveria uma bilheteria, tendendo a preços populares, sem excluir eventos comerciais que possam trazer grande renda que a Instituição necessite.
Mas não será um lugar de venda. A Arte não será instrumentalizada para vender primordialmente, como é o caso da TV. Será necessário inventar o que antes se chamava Show Business, que era o negócio do Show. Hoje se faz Business do Business. Não há interesse no Show com excessão de grandes nomes.
É necessario reinventar-se a economia da Arte.
Uma coisa é certa, o Estádio é criado para privilegiar uma Arte que já deu muito para esta cidade, e para o Brasil e está renascendo poderosa: O Teatro de SãoPaulo.
Hoje nossa cidade reúne muitos coletivos com grande potencial de explosão. O Teatro pode ser regido principalmente pelas novas companhias de Teatro em São Paulo, juntamente com o Teatro Oficina, tendo no Conselho mais importância que os representantes das esferas do poder Oficial. Tem de ser gerido pelo Poder humano cultural de fato.
Esta Arte exige Amantes. Apaixonados. É um espaço da nobreza popular do Poder Cultural de Fato que pode garantir o espaço para o exercício pleno desta Arte.
Todos grandes atores brasileiros, celebridades ou não, todas as crianças que amam teatro, os herdeiros deste lugar, poderiam ter o prazer de atuar neste Teatro, fora dos Padrões. Silvio Santos mesmo, que sentimos no contato direto um Artista de Corpo presente e ligado em tudo, quer dizer, um Ator, seria uma glória atuando neste teatro com sua presença múltipla de um Grande Ator, modéstia parte, como eu, um Grande Palhaço.
A Arte mais dificil é da Manutenção Financeira.
Não será a mesma do Trans Shopping, mas não será de uma Arte Pobre. A Evolução do Teatro pode levar o teatro a ser um esporte de Multidões como o Futebol que hoje já é Cultura. Há de se inventar uma Economia para uma Arte que deseja tocar multidões. Subsídios incentivos tantos das Leis de Isenção de Impostos, como pela participação de firmas que naturalmente se interessassem por ter seu produto ligado numa atividade que pode incorporar em seu próprio campo mais forte da ação, seu próprio Estádio, um Marketing incorporado com beleza explícita às suas criações. Dinheiro Internacional de Grandes Instituições pois deverá ser um polo de atração turística internacional a cidade onde o Teatro será não a Paixão pelo esporte ou pela arte, mas o próprio Esporte da Paixão.
A ligação com a SBT poderá trazer enormes transformações no audio visual brasileiro e internacional. Tomara que ela aconteça por que amaria poder dar de volta tudo multiplicado que esta cidade me deu.
São Paulo, 11 de outubro de 2004
José Celso Martinez Corrêa
Presidente da Associação Teatro oficina Uzina Uzona
E diretor artístico e ator do Teatro Oficina.
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